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. O MÉTODO GDS E A PENTA-COORDENAÇÃO

 

 

 

        Por que escrever sobre o Método GDS ?

    Em setembro de 2010, durante o curso da professora francesa Régine Hubeaut sobre os aspectos psicocorporais do Método GDS (ciclo III da formação), a aluna Ana Paula, uma sócia bastante atuante da Associação de Praticantes do Método GDS (APGDS-Brasil), me trouxe alguns textos que ela pesquisou na internet. Assim como ela, os membros do conselho diretor da associação ficaram preocupados com os conteúdos equivocados que eram apresentados por alguns profissionais que sequer tinham a formação no Método. Pode parecer coincidência do destino, mas na mesma semana que a Ana me enviou os textos, um amigo publicitário chamado Gustavo Fortes, participou de uma entrevista onde o assunto era o "marketing de guerrilha". Nessa entrevista, entre vários assuntos, ele abordou a utilização das "redes sociais" na internet. Resolvi entrar nesse mundo virtual e aproveitei o momento para criar um blog, uma conta no facebook e, também, no twitter. Assim, acredito que mesmo em um ritmo muito lento, podemos "povoar" a internet com conteúdos fiéis aos desenvolvidos por Godelieve Denys-Struyf e Philippe Campignion. Se a internet é um dos principais veículos de comunicação desse nosso século, por que não se adaptar a ela ?!  Aliás, este é o principal objetivo de cada APGDS mundial: divulgar o Método GDS, preservando a sua autenticidade e a sua identidade.

 

 

    No texto do dia 22 de março, eu lembro ter dito que, na concepção do Método GDS, Godelieve Denys-Struyf recebeu influências da Medicina tradicional Chinesa. O que esqueci de dizer foi que seu marido, Doutor André Struyf, é um especialista neste campo da ciência. Inclusive, ele escreveu um artigo chamado "Contribution a l`étude des chaînes musculaires comme bases typologiques et comme niveaux énergetiques". No mesmo periódico, Denys-Struyf faz um ensaio da aplicação do Método a partir do trabalho acima descrito.  

 

 

    Um adendo....

 

    A primeira questão que me vem à cabeça neste momento é: como tornar um assunto que aborda "energias", aspectos culturais e filosóficos, ser um tema interessante ? Afinal, vivemos em um momento "racional" das ciências. O meio acadêmico cada vez mais valoriza a "medicina baseada em evidências". Com relação a esta questão, particularmente, tenho por princípio que qualquer novo conhecimento agrega valores para a nossa vida. Para os mais céticos, é importante salientar que estarei me referindo a uma medicina que tem cinco mil anos de história. Além disso, o COFFITO, através da RESOLUÇÃO Nº 219 de 14 de dezembro 2000 (D.O.U. Nº 248 de 27/12/00 Seção I Página 70) reconhece a Acupuntura, uma das técnicas que se apoia nos conceitos que irei desenvolver, como Especialidade do Fisioterapeuta.

 

 

    Embora eu não tenha um grande aprofundamento nessa área, procurei estudar este tema para poder entender um dos alicerces que fundamentam o Método com que trabalho. Nas minhas pesquisas, cada vez mais confirmo uma teoria. Muito do que Godelieve Denys-Struyf descreveu como base de seu Método, na década de 70, pode ser encontrado, hoje, em diversos artigos de periódicos conceituados da área da saúde. Ou seja, tenho observado que muitas pessoas falam do mesmo assunto por vias diferentes. 

 

    Então, vamos começar.... Minha sugestão é flexibilizar nossos (pré) conceitos, para conseguirmos entrar em sintonia com um conhecimento que envolve uma percepção de mundo que é bem diferente de nossa cultura.

 

 

    Para os chineses existe uma força superior que envolve todos os seres do universo. Essa linha de pensamento filosófico chama-se Taoísmo. Trata-se de uma das mais antigas filosofias religiosas e culturais, juntamente com o judaísmo, hinduísmo, confucionismo e budismo. Para tentar definir o Tao, podemos dizer que assemelha-se ao que as religiões ocidentais entendem por Deus. Para o taoísmo, a origem de tudo é o vazio. Sua principal característica é a natureza cíclica de seu movimento e de suas mudanças constantes. Todos os acontecimentos na natureza apresentam padrões de ida e vinda, de expansão e contração. Essa forma de pensar nos mostra que, se o homem seguir as leis do universo, se tornará harmonioso, pois conseguirá ter a mente, o corpo e o espírito integrados. 

 

    A Medicina Chinesa diz que, para uma teoria ser verdadeira, deve estar relacionada a todas as coisas do universo, ou seja, aquilo que ocorre na natureza também ocorrerá no homem. Uma outra maneira de pensar é que nossas células são um microcosmo do homem. Nossas células respiram, se reproduzem, se alimentam. Guardando as devidas proporções, o homem é uma célula do universo.

 

 

    Todas as técnicas baseadas na medicina tradicional chinesa se sustentam sobre uma tríade:

 

    

    O primeiro ponto de sustentação é que existe uma energia que faz tudo existir - A Energia Chi é a primeira manifestação do Tao. O Big-bang no vazio ! Refere-se ao princípio da criação do universo. As perturbações na forma como essa energia circula são as causas dos principais desequilíbrios no homem. Para os chineses, saúde e doença são partes de um processo contínuo de adaptação do organismo a um meio ambiente que está permanentemente em modificação. A energia Chi circula no corpo através de um sistema de canais ou meridianos e, quando encontra-se excesso, insuficiente ou bloqueada, surgem os desequilíbrios que podem levar ao surgimento das doenças.

 

    Tenho observado que muitos profissionais que iniciam sua formação no Método das Cadeias Musculares GDS, tentam fazer o paralelo entre os meridianos da Medicina Chinesa e o trajeto dos encadeamentos musculares. Esse é um erro frequente ! Tente não se prender a esse detalhe, pois o elo de ligação é filosófico. Lembre do que tenho insistido, o Método GDS se propõe a fazer uma leitura psicocorporal. Nossas crenças e valores determinam nossas ações e atitudes, sem que muitas vezes nos demos conta disso. E isso está profundamente arraigado em nós, tanto no corpo quanto no psiquísmo. Então, não se precipite em tirar conclusões, mais adiante farei uma ligação que permitirá entender como definimos algumas estratégias terapêuticas.

  

 

    O segundo ponto de apoio é o princípio da polaridade. Yin e Yang são energia que circulam no corpo pelos meridianos. Estas energias se mantém num permanente equilíbrio dinâmico e é a alternância que faz tudo se mover. Assim, todos os fenômenos atraem-se mutuamente e ao mesmo tempo se repelem. Nada é absoluto e tudo contém em si a semente de seu contrário. A imagem do Ying e Yang sintetiza o equilíbrio das forças, ao mesmo tempo opostas e complementares. O lado preto é Yang e contém uma semente de Yin, representada pelo pequeno círculo branco. Já o lado branco é Yin e contém a semente Yang. Para existir Yin é preciso haver Yang, assim como não existe frio sem calor, não há sombra se não houver luz. No ser humano, essas forças também estão presentes em proporções adequadas em nosso organismo. O homem, por exemplo, é mais Yang e menos Yin, enquanto na mulher esta proporção é inversa. Quando esses dois elementos estão em proporções adequadas, nos fornecem o equilíbrio energético justo, gerando saúde. Caso contrário, a deficiência de uma energia levará ao excesso da outra e, como consequência, ao aparecimento de doenças.  

 

 

    O terceiro e último ponto de apoio da tríade são os cinco movimentos (ou elementos). Esses movimentos são as forças através das quais a energia Chi se expressa. São as cinco direções de movimentos dos fenômenos naturais.

 

    Quem tem o livro do professor Philippe Campignion, Aspectos Biomecânicos – Método G.D.S. – Noções Básicas, peço que abra na página 69. Uma outra opção é pegar um lápis e papel. Faça uma estrela de cinco pontas, onde uma das pontas esteja direcionada para cima. Em seguida contorne esta estrela com um círculo.     Na ponta da estrela direcionada para cima escreva "Fogo". Agora, no sentido horário escreva em cada ponta "Terra", "Metal", "Água" e por último "Madeira". Acabamos de construir um pentagrama. A parte externa corresponde ao ciclo Sheng (de nutrição), e na Estrela central temos o ciclo Ko (de controle). Quando encontramos excessos nos controles da estrela, podemos dizer que estamos diante de um ciclo de dominação.

 

 

    Doutor André Struyf, em seus estudos, correlacionou estes cinco movimentos (elementos) às cadeia musculares. A Madeira representa o movimento expansivo e corresponde a estrutura psicocorporal PL, o Metal, por sua vez, vai no sentido interior, corresponde a estrutura AL. A Água representa o movimento descendente (PM), enquanto o Fogo é o movimento ascendente (PA e AP). A Terra corresponde à estabilidade (AM). Estes elementos não existem isoladamente. Eles estão intimamente ligados aos dois ciclos descritos acima. Esses dois ciclos devem coexistir harmonicamente dentro do organismo, caso contrário surgirão desequilíbrios e possíveis patologias. Esse sistema de ciclos é fruto da observação intensa e do conhecimento intuitivo dos antigos médicos chineses, que fizeram uma correlação entre os elementos, os estados da natureza e os estados internos dos seres humanos.

 

 

    Farei uma breve descrição do ciclo de nutrição, que se encontra na parte externa do pentagrama. Tenho certeza de que esse assunto vai se tornar um pouco mais familiar agora, pois você já deve ter, algum dia, se deparado com essa estrutura: A Madeira alimenta o Fogo, que produz cinzas (representada pela Terra), que gera minerais (representados pelas rochas de onde deriva o Metal), que gera Água a partir da sua fusão. A Água nutre as árvores, gerando a Madeira. A partir desse ciclo de nutrição, vou fazer uma breve descrição colocando outras estruturas que estão em sintonia com os movimentos. O fígado pertence ao elemento Madeira (PL); o coração ao Fogo (PA); o baço-pâncreas pertence à Terra (AM); o pulmão ao Metal (AL) e os rins à Água (PM). Desse modo, a energia (Chi) dos rins alimenta o fígado (Madeira - PL); este estoca sangue para ajudar o coração (Fogo - PA); o calor do coração vai aquecer o baço-pâncreas (Terra - AM), o qual transforma a essência (energia) dos alimentos que vai encher o pulmão (Metal - AL). o Pulmão purifica, auxiliando os Rins (Água - PM).

 

 

    Com todas essa informações, será que eles conseguiam fazer um diagnóstico diferencial entre uma infecção e um simples estado gripal ? Com os recursos da época, seriam eles capazes de saber se o agente causal era um vírus ou uma bactéria ? Na verdade, eles trabalhavam dentro de outro paradigma. Os chineses utilizavam termos como vento-frio e vento-quente para diferenciar os sinais clínicos, a partir de toda uma observação, e criavam parâmetros de comparação que davam origem às denominações aplicadas a cada desordem orgânica. Bem coerente, concordam ? Para sistematizar o conhecimento adquirido, eles agruparam os fenômenos observados e correlacionaram as características físicas e emocionais, para poderem chegar a um diagnóstico e formularem um plano terapêutico.  

 

    Godelieve Denys-Struyf seguiu a mesma linha de raciocínio dos médicos chineses de cinco mil anos atrás. Observou os fenômenos e sistematizou todas as informações que adquiriu ao longo de sua vida profissional. O Método GDS, por esta razão, tem como premissa: "olhe e aprenda a ver".

 

 

    Quanto ao ciclo de controle, este corresponde à estrela do pentagrama. Sua compreensão é de fundamental importância para o domínio dos aspectos biomecânicos do Método GDS, pois ele regula o equilíbrio das relações fisiológicas entre as cadeias musculares. Esse será o assunto da próxima semana...

 

 

 

Alexandre de Mayor

 

 

Bibliografia

 

 

. Campignion P. Aspectos Biomecânicos – Cadeias Musculares e Articulares – Método G.D.S. – Noções Básicas. São Paulo: Summus; 2003.

 

. Denys-Struyf G. Essai d`application aux chaînes de la méthodologie développée par le Dr. A. Struyf dans le précédent article. In: Cahiers des Chaînes G.D.S. nº2. pp.41-51. Bruxelles: ICTGDS; 1986.

 

. Maciocia G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa. São Paulo: Editora Roca, 2ª edição; 2007.

 

. Struyf A. Contribution a l`étude des chaînes musculaires comme bases typologiques et comme niveaux énergetiques" In: Cahiers des Chaînes G.D.S. nº2. pp.3-40. Bruxelles: ICTGDS; 1986.

CURSO Introdução e Noções Básicas GDS

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