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Imagem: Philippe Campignion.

Curso RESPIR-AÇÕES - Rio de Janeiro 2008 

.RESPIRAÇÃO E A ESTÁTICA VERTEBRAL – CADEIAS MUSCULARES E ARTICULARES GDS

 

 

 

   Quando terminei de editar o texto da semana passada, não sabia ao certo como daria continuidade à nossa discussão semanal. Porém, recebi em meu consultório uma paciente jovem, com uma doença genética que afeta o pulmão chamada fibrose cística, também conhecida por mucoviscidose. Embora ela já realize inúmeros procedimentos terapêuticos diários, que minimizam a gravidade de seu quadro clínico, a paciente sentiu necessidade de buscar um tratamento mais globalista, uma vez que percebeu que novos sintomas se associavam a sua doença de base. Ela tinha muita consciência do prognóstico clínico e soube me descrever, minuciosamente, durante a anamnese, todos os procedimentos que realizava para fluidificar sua secreção e as medicações para evitar as infecções respiratórias secundárias. Se por um lado, as "dores nas costas" eram uma queixa que sempre a acompanhou em decorrência da frequência das tosses, foi a rotina diária de trabalho e estudos que potencializou este sintoma.

 

 

   Após todos os relatos, perguntei-lhe como ela imaginava o espaço ocupado pelos pulmões dentro do tórax. Foi imediato apontar que estavam na direção dos arcos costais mais inferiores. É muito comum essa imagem errada da disposição das estruturas intratorácicas ! Quando indaguei se ela tinha consciência de que todos os orgãos das cavidades torácica e abdominal se ligavam às nossas estruturas ósseas, logo percebi que precisávamos começar bem do início, ou seja, reconstruir para devolver uma função justa.

 

 

  Em relação à intervenção da fisioterapia respiratória convencional nas patologias obstrutivas crônicas, os objetivos fundamentais são: prevenção, desobstrução das vias aéreas e redução ou abolição dos sintomas. O tratamento pode utilizar diversas técnicas, como, por exemplo, a drenagem postural, a percussão manual e mecânica, a vibração torácica, a tosse assistida, a drenagem autogênica, as técnicas de expiração forçada, a técnica do ciclo ativo da respiração, o flutter e, também, o CPAP (ventilação espontânea em pressão positiva contínua). A inspiração e expiração forçada, de forma espontânea e prolongada, podem ser utilizadas para facilitar um alongamento ou até mesmo para propor um relaxamento global do corpo. A descrição deste arsenal terapêutico não é o propósito deste texto. Meu objetivo, agora, será começar a descrever a respiração, a partir da noção de estática vertebral que já estamos trabalhado há semanas.

 

 

   Philippe Campignion afirma que "respiração e estática são inegavelmente ligadas. O diafragma, ator principal da respiração, depende da estática. Ele age também no empilhamento vertebral correto". Assim sendo, o conceito de respiração fisiológica pelo Método GDS está atrelado ao conhecimento das diferentes "tipologias" psicocorporais. Pois, qualquer que seja a organização postural de um indivíduo, sua respiração precisa acontecer de forma natural e sem entraves.

 

 

   Então, vamos voltar ao assunto do equilíbrio do homem de pé, abordado no dia 12 de abril.

 

 

   Nossas cadeias articulares constituem um sistema de três massas (pélvica, torácica e cefálica) e suas três respectivas alavancas. Cabe às alavancas se movimentarem através de pivôs acionados por nossas cadeias musculares. Segundo Campignion, as massas refletem nossa estrutura arquetípica, enquanto as intermassas possibilitam a adaptabilidade das massas. Em um esquema fisiológico, a massa é um local de resistência. São as regiões do corpo onde localizam-se as cifoses (sacral, torácica e occipital). Por outro lado, as intermassas são as zonas de elasticidade do corpo. São as regiões onde verificamos as lordoses (femorotibial, lombar e cervical) 

 

 

   Gostaria, agora, que a atenção fosse direcionada às nossas três alavancas, nossas três lordoses. Como estamos nos referindo a três curvas, teremos três ápices, que se localizam nas regiões mais convexas das curvas. Certo ? Na primeira alavanca temos a articulação do joelho como o ápice da curvatura. Articulação esta, responsável por ajustar os constantes desequilíbrios da pelve. Na alavanca seguinte, temos a terceira vértebra lombar como ponto mais extremo desta curva. Na lordose cervical, o ponto mais avançado se localiza na região de C4 – C5. Essa disposição será verdadeira dentro de determinadas condições que veremos mais adiante. A partir desse conceito de lordose, podemos entender que temos 3 "joelhos" funcionais no nosso corpo, responsáveis por ajustar o posicionamento das massas.

 

 

   Vamos fazer uma reflexão biomecânica, a partir da imagem da estrutura arquetípica PA. Nessa tipologia, como já havia descrito em outra ocasião, observamos, no plano sagital, todas as massas alinhadas ao eixo de referência GDS. A oitava vértebra torácica está no ápice da cifose e todas as lordoses colocadas em seus pontos funcionais.

 

 

   Em uma tipologia PM, em excesso, encontramos as massas projetadas à frente da linha de referência GDS. Sendo assim, teremos a diminuição das duas primeiras lordoses (femorotibial e lombar). Com relação à lordose cervical, esta estará acentuada, fazendo com que o ponto máximo de curvatura suba para a primeira e segunda vértebra cervical. No excesso de AM, teremos uma outra imagem no plano sagital. Acentuação da lordose femorotibial; "apagamento" da lordose lombar, uma vez que a acentuação da cifose torácica descerá seu ápice para a nona, ou décima vértebra; e com relação à região cervical, podemos, até mesmo, encontrar uma recuperação por PM para a manutenção de um olhar horizontal.

 

 

   Foi possível entender que cada tipologia vai fazer um "desenho" dentro da linha de referência GDS ?

   Tente, agora, fazer esse mesmo raciocínio para as demais estruturas psicocorporais que faltaram (PAAP, AP, AL e PL). Depois, será mais fácil visualizar as estruturas combinadas, AM-PL, PM-AL ...

 

 

   Então, eu farei uma pergunta e, eu mesmo responderei. Em função do que apresentei, será que a estrutura PA (sem excesso) apresenta as condições fisiológicas para o melhor equilíbrio das massas e funcionamento das alavancas ? A resposta é sim ! Mas irei aprofundar esse assunto na próxima semana...

    Mas, atenção !!!

   Isso precisa ficar bem claro. Essa organização PA é apenas uma referência. Não devemos considerá-la como um ideal a ser buscado.

 

   É importante sempre lembrar que nascemos com as ferramentas apropriadas para o preenchimento de nossos potenciais. Nossas 6 ferramentas psicocorporais são utilizadas para nos ajustar ao meio físico, familiar e sociocultural. Isso quer dizer que a nossa biomecânica já vem geneticamente programada para facilitar a realização de nosso “projeto de base". Se o meio é favorável e nossa mecânica pode se adaptar, teremos mais facilidade de irmos ao encontro de nossos potenciais. Por outro lado, se o ambiente em que vivemos nos afasta de nosso projeto inicial, teremos que usar ferramentas que não vieram pré-programadas. Isso pode ter, como ônus, a criação de marcas corporais que desorganizarão o bom equilíbrio biomecânico. Neste caso, estaremos nos movimentando psicocorporalmente no sentido contrário ao de nossos potenciais. As cadeias musculares que deveriam funcionar, mediando de forma harmoniosa nossas relações psicocorporais, passarão a aprisionar o corpo em um determinado modo de funcionamento, dificultando a adaptabilidade mecânica e comportamental.

 

 

   Vou apresentar um exemplo: em uma avaliação, encontro um paciente com predomínio da estrutura psicocorporal de base AM. Ao longo das primeiras sessões de tratamento, identifico, neste indivíduo, motivações e características motoras e comportamentais ligadas à esta estrutura. Isso me permite concluir que esta pessoa, provavelmente, veio geneticamente programada para expressar todas as possibilidades que o potencial AM oferece. Mas, se eu encontro "marcas" com características tipológicas de uma estrutura que não corresponde a esse potencial de base, isso revelará que esse indivíduo está fazendo concessões para se adaptar às condições que a vida lhe apresenta. Se usarmos a referência PA como objetivo terapêutico, estaremos favorecendo o desequilíbrio e o aparecimento de novas marcas corporais.

 

 

   Individualizar o tratamento não é simplesmente fazer um trabalho personalizado. Eu já descrevi a estratégia da estrela, onde coloco todas as estruturas psicocorporais em penta-coordenação.

   Deixarei uma questão no ar ... Se temos 3 "joelhos" funcionais que ajustam a todo instante o equilíbrio das massas, devemos fortalecer ou trabalhar de modo proprioceptivo ? Exercícios para fortalecer o músculo quadríceps femoral, a hiperextensão de tronco e a tração cervical irão, realmente, melhorar a função sensório-motora e a eficiência no recrutamento das fibras musculares diante dos ajustes necessários para as atividades cotidianas ?

 

 

 

   Abraço,

 

   Alexandre de Mayor.

 

 

 

Bibliografia

 

. Campignion P. Aspectos Biomecânicos – Cadeias Musculares e Articulares – Método G.D.S. – Noções Básicas. São Paulo: Summus; 2003.

 

. Campignion P. Respir-Ações. São Paulo: Summus; 1998.

 

. West J. B. Fisiopatologia Pulmonar Moderna. 4a edição, Rio de Janeiro: Editora Manole LTDA; 1996.

CURSO Introdução e Noções Básicas GDS

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