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. MÉTODO GDS - O EQUILÍBRIO DO HOMEM DE PÉ

 

 

    Muitos métodos e técnicas na área da terapia corporal se propõem a avaliar e tratar os "distúrbios da postura". Porém, antes de tudo, um profissional deve utilizar as ferramentas terapêuticas de que dispõe, de modo coerente com aquilo em que acredita. Existem diferentes formas de observar o homem e o seu corpo. Meu objetivo, ao longo desse último mês, foi descrever uma outra possibilidade. Pela visão do Método de Cadeias Musculares e Articulares GDS, o homem se movimenta no espaço em uma direção que é física, mas também é psíquica. Nenhum gesto acontece aleatoriamente, afinal somos impregnados por nossas motivações e experiências.

 

    Ainda dentro desse assunto corpo-linguagem, faço referência à Profª Joelle Van Nieuwenhuyze para reforçar esse tema. Em seu trabalho intitulado Influência das pulsões psico-comportamentais sobre os desequilíbrios morfo-estáticos do eixo vertical, a autora cita as pesquisas de Albert Mehrabian, no campo da linguística. Nesta pesquisa foi demonstrado o quanto prevalece a comunicação transmitida através do corpo e dos gestos, em relação às demais formas. Essa linguagem do corpo à qual me refiro, corresponde a 55% da nossa forma de comunicação. O som da voz e as intonações participam de 38%, enquanto que as palavras, em si, contribuem com apenas 7%. 

 

 

    Os estudos na área da posturologia tem o objetivo de verificar e regularizar "os distúrbios da posição ortostática". Assim sendo, procura-se fazer uma avaliação semiológica do homem, na posição de pé, em relação aos planos anatômicos (frontal, sagital e horizontal). No plano frontal serão observadas as oscilações anatômicas a partir da comparação entre as referências encontradas no lado esquerdo e direito do corpo. Por exemplo, a altura das patelas, as espinhas ilíacas anterosuperiores, os acrômios, a altura das pregas glúteas na visão dorsal, o alinhamento dos processos espinhosos de L3 e C7 no eixo vertical. Já no plano sagital, com uma referência cefália a partir de um olhar vertical, traça-se uma linha em direção ao solo, passando anteriormente ao conduto auditivo. Esse eixo deverá passará por dentro do quadril, anteriormente aos corpos vertebrais da coluna lombar. Os marcos anatômicos deverão ser idênticos nos dois perfis. Caso contrário, será um sinal de rotação axial no plano horizontal. Em seguida, uma análise do tônus muscular se faz necessária para compreender as assimetrias e corrigi-las.

 

 

    O que seria realmente uma assimetria ? Talvez um descuido da natureza termos nascido com apenas um fígado e um estômago ? E os nosso dois pulmões de tamanhos diferentes? Será que diminuíram o esquerdo pois não havia mais espaço dentro do tórax para o coração e os grandes vasos sanguíneos ?

 

 

    Para dar continuidade a esse raciocínio, descreverei uma história contada por nosso professor belga, Alain d`Ursel, durante sua conferência no II Congresso Internacional da APGDS, em Bruxelas.

 

 

    Era uma vez... Uma senhora que viu o corpo em movimento no espaço, a olhar para cima... em ação para a frente... voltar para si mesmo nos seus apoios... que se exterioriza... que se interioriza... que pode viver tão fluido, adaptável e variando as direções. Este corpo atua como uma unidade onde o gesto e aquilo que o anima são apenas um. Esta senhora se chamava Godelieve Denys-Struyf.

 

 

    Struyf percebeu que o corpo se movimentava e se ajustava a todo instante. Por essa razão, para analisar o homem de pé, colocou o seu eixo de referência no plano sagital vindo do chão. Posição esta, bem diferente da linha de gravidade utilizada pelos posturólogos. Esse marco localiza-se no terço inferior da perna em seu ponto tangente mais recuado. Portanto, para podermos fazer uma leitura precisa de todas as possibilidades de funcionamento psicocorporais, devemos, antes de observarmos "as formas", as assimetrias, precisamos entender "de que maneira" nos equilibramos. Ou melhor, como "oscilamos" nosso corpo a partir dessa linha de referência que está no chão.

 

 

    Nesse momento, para quem está começando a acompanhar esta coluna semanal, sugiro a leitura do texto publicado no dia 29 de março - Cadeias Musculares GDS - Alguns conceitos psicocorporais  Além disso, aproveito a oportunidade para anexar o link com os livros do professor Philippe Campignion, diretor mundial da formação biomecânica do Método GDS de Cadeias Musculares e Articulares Aspectos Biomecânicos. Cadeias Musculares e Articulares – Método G.D.S. Noções Básicas. São Paulo: Summus; 2003.

 

 

    Então... Nossas cadeias articulares constituem um sistema de três massas (pélvica, torácica e cefálica) e suas três respectivas alavancas. Cabe às alavancas se movimentarem através de pivôs acionados por nossas cadeias musculares. É importante lembrar que todo esse sistema é interdependente. O que acontece em uma massa ou alavanca terá repercussão nos demais segmentos do corpo.

 

    Entre todos os pivôs "mecânicos" encontrados no corpo, cada cadeia muscular possui um, que chamamos de pivô primário da pulsão psicocorporal. Esse pivô, que também atua na mecânica, se diferencia dos demais, por ser o lugar específico do corpo onde uma motivação se materializará. No instante que acontece uma motivação, é deflagrada a atividade de músculos nesse local, que por reflexo miotático, recrutará todo um encadeamento de músculos específicos. O corpo, então, assumirá uma forma característica dentro da linha de referência GDS. 

 

 

    Assim, minha necessidade de ação (que está relacionada à estrutura psicocorporal PM) acionará seu pivô primário no tornozelo através do músculo sóleo. A ação muscular tracionará a tíbia posteriormente, gerando uma cascata de ativações musculares (encadeamentos), desequilibrando o corpo para frente do eixo de referência. Em uma situação fisiológica, os músculos deveriam reestabelecer o desequilíbrio desencadeado por essa motivação, e assim, transitarmos de uma atitude postural para outra. Nesse caso, nos referimos a uma "linguagem falada" do corpo.

 

    A todo momento, tenho destacado o papel das cadeias musculares e das cadeia articulares. Porém, nesse sistema de movimentação de massas, alavancas e pivôs, não podemos esquecer das estruturas do tecido conjuntivo (fáscias, aponeuroses, tendões e ligamentos) que tem função estruturalmente importante nessa organização psicocorporal. Certamente abordaremos as atribuições destes tecidos em outra ocasião.

 

 

    Vamos voltar às motivações. Mas, desta vez, estarei me referindo ao excesso, para melhor ilustrar o comportamento desse sistema.

 

 

    Já a minha necessidade de afeto (que está relacionada a estrutura psicocorporal AM) acionará seu pivô primário que encontra-se no joelho. Agora é a ação do gastrocnêmio medial e grácil que serão os motores dessa pulsão. No plano sagital, veremos um desequilíbrio posterior, onde as massas estarão, predominantemente, atrás do eixo de referência.

 

    As estruturas PA e AP estão associadas ao ideal. PA têm seu pivô primário no pescoço e AP, não o possui, uma vez que precisa "transitar" entre todas as estruturas do corpo para manter a ritmicidada e adaptabilidade funcional. Em PA, encontramos todas as massas horizontalizadas e perfeitamente alinhadas ao eixo GDS. Isso se deve ao "motor" da pulsão, músculo longo do pescoço, que ativará reflexamente os músculos sub-occipitais com ponto fixo para cima. Por sua vez, AP no excesso, se refere à ausência de atividade muscular. Assim, ela está no sentido oposto de PA. É o retorno. As massas em AP "desmontam", fazendo um "zig-zag" no eixo de referência. Todavia, observamos que as massas não perdem sua horizontalidade. Existe, ainda, uma terceira atitude postural, PA-AP. Neste caso, PA toma conta da massa cefálica e torácica, enquanto AP desenvolve a hiperlordose lombar e anteverte globalmete toda a pelve.

 

    Os pivôs das estruturas AL e PL, cadeias do eixo relacional, encontram-se na articulação do quadril. Estas serão melhor observadas no plano frontal. Porém, no excesso, verificamos que as estruturas "transbordam" para o plano sagital. Em AL constatamos uma aproximação das massas, um achatamento. Já em PL, uma projeção anterior da massa pélvica e arqueamento posterior na massa torácica.

 

 

    Ao falarmos de excesso, dizemos que uma cadeia muscular está imprimindo uma ação desorganizante em diferentes tecidos, o que provocará, por sua vez, a reação de outras cadeias musculares. Dessa forma, não será mais possível utilizarmos uma outra atitude postural, um outro modo de funcionamento. Agora, podemos afirmar que estamos diante de uma "linguagem gravada".  

 

 

    Semana que vem continuarei com esse mesmo assunto, porém, adicionarei alguns novos ingredientes.

 

 

    Abraço.

 

 

Bibliografia

 

. Campignion P. Aspectos Biomecânicos – Cadeias Musculares e Articulares – Método G.D.S. – Noções Básicas. São Paulo: Summus; 2003.

 

. Mehrabian A. Inference of attitudes from noverbal communication in two channels. The Journal of Counselling Psychology: vol.31,1967 (p.248-52).

 

. d`Ursel A. Nos os sont élastiques: sens et conscience protègent nos articulations IN: Inforchaînes: La revue des praticiens de la Méthode G.D.S. Bulletins trimestriels édités et diffusés par les APGDS, France e Belgique: 2 ème semestre 2010 (p.8-11).

 

. Manderveld P. Le corps est language IN: Inforchaînes: La revue des praticiens de la Méthode G.D.S. Bulletins trimestriels édités et diffusés par les APGDS, France e Belgique: nº 18 juillet 2004.

 

. Nieuwenhuyze J. V. Influence des pulsions psycho-comportementales sur les desequilibres morpho-statiques de l`axe vertebral IN: Inforchaînes: La revue des praticiens de la Méthode G.D.S. Bulletins trimestriels édités et diffusés par les APGDS, France e Belgique: nº 25 décembre 2006 (p.8-12).

 

 

 

Alexandre de Mayor.

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RENATA UNGIER, coordenadora da formação em Cadeias Musculares e Articulares GDS no Rio de Janeiro, fala sobre avaliação e fisiodiagnóstico em uma perspectiva de individualização da abordagem e atenção global ao paciente.

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