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MÉTODO GDS - CADEIAS MUSCULARES "VESTINDO" CADEIAS ARTICULARES

 

 

    Começarei o texto de hoje com uma constatação que se sustenta em minha experiência de mais de 15 anos de profissão. As pessoas de um modo geral não percebem seu próprio corpo ! Então, se as cadeias musculares "vestem" as cadeias articulares, vamos nos "despir" momentaneamente de nossos roupas musculares, para podermos chegar aos nossos ossos.

    Frequentemente, observo o quanto é neglicenciada a abordagem terapêutica sobre o tecido ósseo. Nos pacientes, a falta da percepção do osso como uma estrutura viva e com certo grau de elasticidade, é até certo ponto compreensível. Afinal, os pacientes nos procuram com queixas, muitas vezes associadas à ausência de uma consciência de seu próprio corpo e de seu funcionamento. Por outro lado, agora com algumas ressalvas, também verifico que muitos profissionais ainda insistem em concentrar suas condutas na "performance" mecânica e nos exercícios segmentares de força e alongamento, como se isso criasse uma "reserva" para os nossos eventuais traumatismos e processos degenerativos.

 

 

    Agora, você deve estar se perguntando, se o osso é tão importante para a nossa estruturação psicocorporal, por que o músculo tem tanto destaque nos trabalhos que envolvem o corpo ?

 

 

    O que precisa ficar bem claro é que existem diferentes objetivos dentro do que chamamos atividade física. Para essa análise, devemos separar aquelas atividades que se destinam à competição, daquelas que se propõem à "saúde física e mental". Esta última, por sinal, deveria estar mais voltada a construção e valorização de uma imagem corporal, a organização mecânica e a coordenação de um gesto justo. Todavia, não é isso que acontece. A hiper-valorização de uma estética da "moda", faz a pessoa "parecer" saudável, em vez de "ser" concretamente e integralmente são. Com relação as atividades competitivas, chegará o momento de abordarmos, nesta coluna semanal, as diferentes tipologias psicocorporais e os seus terrenos de predisposição para diversas patologias do sistema locomotor. 

 

 

    Poderíamos aproveitar a reflexão acima para voltarmos ao assunto dos potenciais de base. Isso seria uma maneira bem interessante de analisar como estruturamos a imagem do corpo em nós, a partir de nossos vazios. Mas não me estenderei, hoje, nestas questões. Sobre este assunto, deixo um convite para a leitura da dissertação de mestrado da Educadora Física Wanja de Carvalho Bastos - A epidemia de Fitness: uma questão de saúde pública (Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - Fiocruz). A autora descreve, em sua dissertação, a transformação dos hábitos e comportamentos da sociedade, uma vez que, hoje, o significado de saúde ficou reduzido à promoção, a qualquer preço, da saúde de um corpo e não do indivíduo. Tudo isso com o endosso da ciência e da mídia de massa. Vale muito a pena ler este trabalho! http://bvssp.icict.fiocruz.br/lildbi/docsonline/get.php?id=2162

 

 

    Voltando ...

 

 

    Quando solicito ao meu paciente que descreva como ele percebe sua estrutura óssea, dentro si, frequentemente o silêncio se instala no ambiente. Muito raramente, ouço que é duro e branco, quase passando uma idéia de algo "morto". Embora isso não seja verdade, mesmo assim fico contente pela verbalização de uma sensação. Agora, é possível ajudarmos a construir um novo significado a algo que teoricamente "nunca existiu" ou pelo menos, jamais revelou ter uma grande importância. O osso, na verdade, é um dos tecidos mais metabolicamente ativos do corpo, ou seja, ele é "muito" vivo. É preciso que todo terapeuta não se esqueça que “o osso carrega em sua forma o traço do movimento que o músculo imprime nele” (Philippe Campignion). Isso significa que o osso grava, em si, o percurso de uma vida que não é linear, nem tampouco previsível.

 

    Alain d`Ursel, grande colaborador do Método GDS, diz que o corpo imita o que pensamos dele. Todas as manhãs nós nos vestimos das mesmas tensões. As atitudes e os gestos são repetidos, idênticos. Eles se inscrevem nos ossos, o que, eventualmente, prejudicará as nossas articulações. As solicitações são sempre nos mesmos lugares e, nesse momento, a cumplicidade entre os ossos e os músculos se perde.

 

 

    Na verdade, precisamos tanto dos músculos quanto dos ossos. Porém, cada um tem sua função dentro do que consideramos globalidade. A análise morfológica do corpo pelo Método GDS se apoia em uma avaliação da postura estática para podermos entender os distúrbios da dinâmica. Para isso, o terapeuta observará, em seu paciente de pé, a pulsão psicocorporal (abordarei esse conceito na próxima ocasião), analisará as marcas corporais e, em seguida, fará os testes de elasticidade. É importante lembrar que, quando nos referimos à dinâmica, um músculo pode alternar a todo momento o seu ponto fixo em função da ação desempenhada. Mas, ao falarmos em estática, estaremos nos referindo a um comportamento entre estruturas. 

 

    Antes de observamos as marcas impostas pelos músculos, precisamos saber que elas podem se apresentar com 3 diferentes características. Quando um músculo desempenha seu papel fisiológico, estaremos nos referindo a uma "marca útil". Teremos uma "marca aceitável" quando ela estiver coerente com a estrutura psicocorporal do indivíduo e ainda permitir uma certa liberdade articular. Entretanto, é muito importante que ela não esteja gerando nenhum conflito com as demais cadeias musculares. Estaremos diante de uma "marca desorganizante" se esta estiver colocando em risco a possibilidade de uma outra cadeia muscular imprimir, em determinado segmento corporal, a sua "marca útil". Ao constatarmos a existência de uma "marca desorganizante" nunca trabalharemos uma cadeia muscular isoladamente. Nosso objetivo será ajustar a relação de controles entre todas as cadeias, no que chamamos de penta-coordenação. Para Alain d`Ursel, (...) "as cadeias musculares são como as cordas de um instrumento de música esticadas sobre uma estrutura óssea sensível que interage com as variações de pressão".

 

 

    Qual é a imagem que temos de nossos ossos ? Afinal, o corpo funciona a partir da imagem que eu tenho dele. Correto ? Agora, precisamos reconstruir esse osso dentro de nós, para podermos ajustar as imagens que temos de nós mesmos !

 

 

    Godelieve Denys-Struyf definiu a organização do corpo humano em Cadeias Articulares unidas por Cadeias Musculares.

 

    Então, o que seria uma Cadeia Articular ? Philippe Campignion, diretor mundial da Formação Biomecânica do Método GDS, define que uma Cadeia Articular é um conjunto de articulações que são dependentes uma das outras em seus deslocamentos. Para Piret e Béziers, uma cadeia articular, revestida por suas cadeias musculares, constitui uma unidade motora. 

 

 

    Resumindo: Cadeias Articulares (articulações interdependentes) + Cadeias Musculares (estruturas "psico + motoras") = Diversos modos de funcionamento (Posturas).

 

 

    Para quem nunca pensou que podemos ter diferentes posturas, e que não existe uma única postura "ideal", deixo essa curiosidade para o nosso próximo encontro. Nessa oportunidade, conversaremos sobre o equilíbrio do homem de pé e as diversas possibilidades posturais.

 

 

 

Bibliografia

 

 

. d`Ursel A. Nos os sont élastiques: sens et conscience protègent nos articulations IN: Inforchaînes: La revue des praticiens de la Méthode G.D.S. Bulletins trimestriels édités et diffusés par les APGDS, France e Belgique: 2 ème semestre 2010 (p.8-11)

 

. Bastos W. C. A epidemia de Fitness: uma questão de saúde pública. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - Fiocruz

Alexandre de Mayor

CURSO Introdução e Noções Básicas GDS

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